"Ela, Dilma, é um extraordinário exemplo de liderança. Mas precisa se cercar de líderes também. Não
de capacho. Se ficar se cercando de capachos, não vai para lugar nenhum", afirmou Cid.
Leia a entrevista completa abaixo:
O senhor foi um dos primeiros a defender a reeleição da presidente Dilma. Essa aposta continuará valendo se a economia der errado?
Primeiro, eu penso acima de tudo no Brasil. Não estou pensando na próxima eleição. Um dos males da política brasileira é que os partidos perderam a coerência completamente. A maior parte dos partidos não defende teses. Quando estão no poder lançam mão de certos artifícios e, quando vão para a oposição, condenam os artifícios que usaram e vice-versa. Quando está na oposição condena uma prática e fica torcendo para que o país piore para poder chegar ao poder. Eu, sinceramente, acho que isso é um dos fatores responsáveis pelo descrédito da política no Brasil. A gente tem que ter coerência.
Como assim?
Os partidos precisam ter programas e respostas para os problemas do Brasil. O PT, o PSB, o PSDB, o que defendem para a previdência no Brasil? Isso é um problema que tem dia e hora marcada para explodir. Há estados no Brasil que já gastam mais com aposentados do que com funcionários ativos. Isso vai explodir. A idade média está crescendo. O partido tem que ter claramente uma posição em relação a isso. Não pode ficar criticando quando se faz uma ação para corrigir. Na economia, tem que ser assim. Tem que defender aquilo que acredita.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está indo bem?
O Mantega…Nessa hora agora temos que respeitá-lo. Eu tenho muitas diferenças, mas acho que nessa hora, por questão de respeito do Brasil, o pior dos mundos seria… Ouvi falar até que já sondaram uma pessoa, o Gerdau, mas acho que isso seria terrível para o Brasil. Se eu fosse presidente, não mudaria agora. A equipe da Dilma tem muitas deficiências e não pense que estou atrás de ministério. A equipe da Dilma precisa de mais talento.
Então, a presidente tem que mudar o estilo, ser menos centralizadora?
As coisas não acontecem por geração espontânea. Os ministros é que têm que se impor. “Presidente, minha responsabilidade é essa? Me perdoe, mas a senhora está errada. Ou vai nesse caminho ou me demita.” Precisa de gente assim. Gente que fica baixando a cabeça e terêrê-tererê, não dá. Não é que ela esteja errada, às vezes pode estar até certa, mas não pode ser sozinha. Isso é muito grande para que ela controle tudo sozinha.
E o senhor acha que a presidente Dilma está sozinha? Em quais áreas?
Em algumas áreas, ela está absolutamente só. Nessa área política, então, meu Deus… Meu Deus, meu Deus! A interlocução política da Dilma é terrível. Olha, não se faz nada sem liderança. Ela, Dilma, é um extraordinário exemplo de liderança. Mas precisa se cercar de líderes também. Não de capachos. Se ficar se cercando de capachos, não vai para lugar nenhum.
O senhor acredita na recuperação da economia e na candidatura da presidente?
Torço por isso. Pelo Brasil em primeiro lugar. É bom para o país que se recupere o crescimento da economia. A Dilma ser reeleita, isso é consequência. Eu, naturalmente, por reconhecer na Dilma alguém que tem espírito público e está fazendo as coisas que têm que ser feitas, na essência, eu torço pela reeleição dela. Tudo como consequência uma da outra. Economia, Brasil e ela, tenho simpatia por ela.
E o governador Eduardo Campos? É candidato ao Planalto?
Ele está agindo corretamente. Não deve ser ele quem vá descartar a possibilidade de ser candidato. Quem está na vida pública tem ambições naturais. Qual o brasileiro que está na vida pública e que não sonha em ser presidente da República? É o coroamento de qualquer carreira.
O senhor quer ser candidato?
Não, eu não. Veja bem: quem é que está na vida publica e que não gostaria de estar na maior posição e com isso implementar no dia a dia aquilo que acredita? É natural que ele sonhe. E muita gente tem estimulado a candidatura dele. Não é papel dele, e no lugar dele eu não faria isso, dizer ‘não, eu não sou’. Por que? Ele já disse o que deveria: 2014 se trata em 2014. Acho que cabe naturalmente à Dilma e ao PT cativá-lo, procurá-lo. Ele é uma liderança importante, respeitada, muito querida em Pernambuco, está se tornando conhecida aí no Brasil.
E o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva? O senhor dia desses afirmou que o empresário Marcos Valério era um “pilantra” e as denúncias não deveriam ser levadas a sério…
Quem está dizendo não sou eu. É o STF que o condenou a 40 anos de prisão. Uma pessoa que é condenada e não é por crime de homicídio e nem de tráfico de drogas, a 40 anos de prisão é porque é um pilantra de marca maior. Aí tem formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, tudo que há de crime de colarinho branco com agravantes máximos. Esse entendimento é do Supremo Tribunal Federal e por unanimidade. O Lula não pode ser considerado um Deus, como já disse meu querido irmão Ciro Gomes, não é bom para o Brasil. O PT fez mal a ele nessas últimas eleições municipais quando exigiu dele para, além da conta, presença em eleição. O Lula é um ex-presidente e é assim que deve ser tratado e assim que deve se comportar também. Um ex-presidente que é o maior da história recente do Brasil. O maior dos últimos 40 anos. O que fez mais bem ao Brasil, reduziu mais as desigualdades, que trabalhou com mais sensibilidade a maioria pobre do povo brasileiro. Então, a gente tem que ter respeito por isso.
O senhor falou nele como um ex-presidente que deve se comportar como tal. Isso significa que defende que ele não seja mais candidato?
Eu, na situação dele, não seria mais candidato. O Lula não tem nada a ganhar. Zero. Ele saiu da presidência muito bem. Não é fácil ser presidente duas vezes e sair com a popularidade que ele saiu. Não há possibilidade de sair tão bem quanto saiu. Digo isso com uma convicção de 100% de certeza. Ele só tem a perder. Lula, no meu juízo, deve cumprir um papel de liderança brasileira para estar rodando o mundo. E nós, como brasileiros, o respeitarmos. Darmos a ele os créditos que o povo brasileiro deu. Quem for contra, o PSDB no caso, esqueça. Ele também deve ter uma atuação menor no dia a dia. Não faz sentido ele entrar na política miúda, por exemplo, de Campinas (SP), na política municipal. Acho que ele também tem que compreender a estatura que ele está.
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