quarta-feira, 30 de maio de 2018

Eles pararam um aeroporto na Bahia para receber Bolsonaro


O assistente administrativo Tiago Silva Santos, 34, aguardava ansioso em sua cadeira de rodas. Os estudantes Gustavo Figueiredo, 21, e Dayane Miranda, 27, passaram a madrugada na estrada para estar ali. A nutricionista soteropolitana Jaqueline Carvalho, 45, foi representar as mulheres baianas. Jogador e professor de tênis de mesa, Ednaldo Souza, 69, comprou duas camisas só para a ocasião.

Eles ajudavam a engrossar um coro que repetia gritos de guerra como "mito", "o capitão chegou" e "eu vim de graça". No meio da aglomeração que travou o aeroporto de Salvador para receber o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), na semana passada, tentavam tocar, se aproximar ou, ao menos, conseguir uma foto em que aparecessem com o presidenciável.

Os "bolsonarianos" foram ouvidos pela reportagem do UOL na última quinta-feira (24), quando o deputado esteve na cidade para um ato de pré-campanha. Falaram por que apoiam o deputado, das expectativas para as eleições desse ano e de suas convicções políticas e morais.

Gustavo Maia 24.mai.2018 /UOL
Jair Bolsonaro é parado por eleitora para tirar selfie no aeroporto de Salvador

Entre os entrevistados, a motivação unânime para sair de suas casas --algumas a centenas de quilômetros dali-- foi a "vontade da mudança". Para todos eles, Bolsonaro personifica o "político honesto", ileso de escândalos de corrupção, e o que melhor representa a defesa "da família, da honra e da moral" no Brasil. Dizem ainda se identificar com o liberalismo econômico e pedem a redução da carga tributária no país, bandeira encampada pelo pré-candidato.

"A vontade de mudar falou mais alto. O nosso país vem sofrendo há muitos e muitos anos, e a esperança surgiu com o nome de Jair Messias Bolsonaro", contou Gustavo Figueiredo, estudante de engenharia civil que viajou numa caravana de Jequié, no sudoeste baiano, a 365 km de Salvador.

Ele e os companheiros de um grupo de direita do município passaram de seis a sete horas em um ônibus. "Voluntariamente", frisam. Voltariam para casa menos de uma hora depois da aparição de Bolsonaro no aeroporto, que durou cerca de dez minutos.

"Valeu a pena os minutos que a gente passou juntos. Apertei a mão dele, tirei uma selfie com ele e ele ainda autografou minha bandeira", comentou, acrescentando que a foto iria "rodar o interior todo". O estudante disse que só conseguiu "refletir" sobre a emoção de ter conhecido Bolsonaro depois de alguns minutos.

Na hora é aquela euforia toda, a galera gritando, a gente cai na onda"
Gustavo Figueiredo, estudante

Seus gritos, contou, têm origem no sentimento de cansaço "com tudo isso que vem acontecendo aí", como a paralisação dos caminhoneiros, por exemplo. Em 2016, aos 19 anos, ele foi candidato a vereador de Jequié pelo DEM. Com apenas 64 votos, não foi eleito.

Tiago Silva Santos é de Itajibá, cidadezinha de 15 mil habitantes do interior da Bahia, mas vive em Salvador. Paraplégico e cadeirante desde os nove anos de idade, ele é categórico: "eu sou uma minoria". E faz questão de destacar que sabe que Bolsonaro a respeita, apesar de o deputado já ter afirmado que as minorias têm que "se calar" e "se curvar à maioria".

"A mídia, o povo em si que é oposição, a esquerda dizem que Bolsonaro é preconceituoso. Bolsonaro não é preconceituoso. Hoje eu vi um monte de mulher gritar 'Bolsonaro capitão, as mulheres estão à sua disposição'. Ele não é a pessoa que a mídia tenta colocar. Bolsonaro é um cara humilde", avaliou, minutos depois de vê-lo pessoalmente pela primeira vez.

Ele diz não ser conservador e sim "neoliberal". "Mas acho que a liberdade não deve ser agressiva, não deve ser imediata, 'imediativa'. Essa liberdade que nós conseguimos chegar até aqui tem que ser com responsabilidade. Nós temos que respeitar as minorias. Eu tenho amigos homossexuais, cadeirantes e negros, e eu respeito eles. Eu os amo, entendeu?", pondera.

"Porém eu não aceito que o homossexual vá numa parada gay, pegue uma cruz do Cristianismo e coloque em seu ânus, como forma de protesto. Eu não aceito que um cadeirante tenha que ter cotas. Eu aceito que o cadeirante tenha que ter o seu direito respeitado, que não precise de uma cota para ser inserido, enfiado numa empresa", declarou Santos.

A estudante Dayane Miranda também concorda que a minoria tem que se curvar à maioria. "Até no processo de eleição, de voto, quem vai prevalecer é a maioria, é o voto de um maior coeficiente. Mas respeitando a minoria, entendeu? Mostrando que a gente não tem preconceito, mas o que a gente quer, é que tenhamos respeito também da parte da minoria, entendeu?", afirmou.

Para o assistente administrativo, a recepção no aeroporto soteropolitano representou uma mudança no paradigma de que o Nordeste só vota na esquerda ou no PT. "A Bahia hoje diz 'chega' à corrupção, a esses desmandos que a política tem feito com o nosso país. Nós estamos aqui recebendo uma esperança, não um candidato. Viva o Brasil!", bradou.

A soteropolitana Talita Oliveira, 32, diz acreditar que o perfil do Estado está mudando e para isso usa uma frase de efeito ao gosto de Bolsonaro: "a Bahia não é só vermelha, a Bahia é verde e amarela". Pré-candidata a deputada estadual pelo PSL, ela afirma que "a direita veio para mostrar que tem liderança e tem força".

Outro ponto quase pacífico entre os possíveis eleitores bolsonarianos é de que ele não resolverá todos os problemas do país. "O Brasil é impossível de ser resolvido. Mas nós temos questões cruciais que precisam ser resolvidas para que as outras também sejam", comentou Tiago.

"Ninguém resolve os problemas do Brasil. A primeira é a corrupção. Se a corrupção for resolvida, muitos dos desmandos e dos problemas no Brasil que nós temos estão resolvidos. E daí, se não houver corrupção, desvios, nós teremos dinheiro para resolver saúde e educação, problemas principais do país. E com saúde e educação, o Brasil tem jeito", declarou.

A reportagem então questionou como ele acha que um presidente pode acabar com a corrupção no país. "Sendo como Bolsonaro, honesto, não receber propina, não aceitar corrupção, não se aliar a empreiteiras, a empresas, não aceitar receber dinheiro de empreiteiras para estar em uma cidade ou outra", respondeu.

"Quem está aqui hoje bancando somos nós. Eu fiz o meu adesivo, ele fez a camisa dele, nós é quem bancamos a campanha. Se ele fizer isso, chega lá e não tem compromisso com OAS, Odebrecht, com ninguém, para ter que se vender depois, para ter que pagar aquilo que ele recebeu com juro e correção", relatou.

Dayane Miranda cursa administração em Jequié e conta a "paixão" dos apoiadores por Bolsonaro nasceu antes mesmo de ele falar em ser pré-candidato à Presidência. "A gente acompanha os projetos que ele apresenta, a luta dele, os votos dele a favor do conservadorismo, da população. E a gente fica muito emocionado", declara.

Questionada sobre o desempenho parlamentar do deputado, que só aprovou três projetos ao longo dos mais de 27 anos na Câmara, ela cita as mais de 600 proposições apresentadas por ele e diz que várias delas só não são aprovadas porque não depende apenas dele. "Depende dele e de outros deputados, que fazem parte de outros partidos, de esquerda, que não apoiam a pauta que ele coloca. Então fica meio inviável desses projetos serem aprovados."

A nutricionista Jaqueline Carvalho integra o PSL Mulher e tem como missão mostrar que ele também tem apoio entre elas. "A mídia, infelizmente, lança muitas notícias falsas e a gente veio aqui para desmistificar isso."

Professor de geografia em Jaguaquara (329 km de Salvador), Israel Carlos, 21, integra um grupo de direita na cidade do interior baiano com outros colegas e conta que se aproximou da "causa" quando chegou na universidade e começou a fazer diversas leituras e "perceber algumas questões que estavam erradas na política brasileira".

"Nós acreditamos em um país mais liberal, com baixas taxas tributárias, que vêm afetando todo um contexto social. A gente vê que são mais de 16 milhões de desempregados e surge uma alternativa, talvez uma grande mudança, que é o candidato Jair Bolsonaro, independente de partido. Somos um grupo apartidário", declarou Israel, que ficou rouco de tanto gritar na recepção ao presidenciável.

Turismólogo, o soteropolitano Raimundo Santos de Oliveira, 71, costuma viajar de dois em dois meses para vários países europeus, a trabalho. Contou à reportagem que acompanhou todos os governos brasileiros desde 1960 e até agora "não tinha encontrado nenhum como Bolsonaro".

"Acompanhei todo o regime militar de Humberto de Alencar Castello Branco até João Baptista de Oliveira Figueiredo", declarou, citando os nomes completos dos presidentes da ditadura, defendida pelo presidenciável. "O governo de Bolsonaro seria diferenciado. Pelo menos não existem provas de ele é corrupto. É um um homem íntegro, inteligente, que dá as respostas no ato, não depois", comentou Oliveira.

Diz achar, no entanto, que um evento governo Bolsonaro seria "completamente diferente" dos militares. "Ele apenas, por ser um militar, impõe a ordem, o respeito. E não é favorável à corrupção", afirmou. "Os militares eram militares, estavam ali para pôr ordem na nação. Se tinham seus problemas, era com eles. Agora, depois dos militares surgiram vários presidentes como o Sarney, o Fernando Henrique Cardoso. E senti na pele toda a corrupção, as crises, e eu nunca vi como essa."

Para Ednaldo Fernando de Souza, 69, que ensina tênis de mesa em um centro do esporte para jovens carentes de Itororó, a 537 km da capital baiana, é preciso acreditar em alguém. "Porque no dia que a gente deixar de acreditar nas pessoas, aí a coisa fica complicada", declarou.

"Ele tem o pulso, aquela vontade de melhorar o país, e sabe dizer 'não' na hora certa. Na realidade, ele é um cara linha dura, igualmente a mim. Eu quando estou ensinando tênis de mesa sou linha dura", declarou o esportista, que viajou mais de oito horas de ônibus para estar ali. Empolgou-se tanto com "a festa" que comprou duas camisas em homenagem a Bolsonaro. Em uma delas o deputado estava vestido de super-herói.

"Existe isso em todo setor. Se é no esporte, no futebol, temos Neymar. Se é na música, temos Roberto Carlos. Se é na política, agora do jeito que tá, tem um ídolo, quero dizer, o salvador da pátria. Pode salvar ou não, mas sempre tem que ter alguém salvador da pátria. Então hoje, no momento, o Bolsonaro --tanto que é a palavra 'o mito'-- está sendo esse tal desse salvador. E a gente acredita, até que provem o contrário", explicou.

*Uol.

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