No que diz respeito ao Ceará, Mauro garantiu que as finanças estão em ordem, mas em relação à União, reclamou de privilégios concedidos a estados ricos e endividados, em detrimento de pobres e organizados e mostrou-se preocupado com a extensão dos cortes anunciados em razão do ajuste fiscal.
Transcrevo abaixo, em azul, alguns pontos da entrevista, intercalando-os com comentários meus.
Repasses Federais
“O governo federal diz que o atraso nos repasses foi só momentâneo. Mas o que me preocupa são os convênios que o governo do Estado tem com o governo federal. A construção do Cinturão das Águas é uma obra que nós esperamos – e o governador Camilo já teve com a presidenta Dilma em relação a isso – que não sofra [cortes] no ajuste que está sendo feito.”
Se grandes obras como a Transposição do São Francisco e o Cinturão atrasavam quando havia dinheiro, imagine agora. Ritmo intenso nos canteiros só em período eleitoral.
Tratamento desigual
“Recentemente – e é bom quer os ouvintes saibam disso – o Congresso Nacional aprovou uma lei federal que troca o indexador da dívida pública de estados e municípios brasileiros, para beneficiar São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e a prefeitura de São Paulo. O governador Cid – e eu como secretário da Fazenda – nós antecipamos esse pagamento. O estado do Ceará não deve mais nada ao governo federal nesse financiamento que foi feito. Ora, o Ceará não vai ser beneficiado com nada! Absolutamente, nada! (…) E o Ceará não pode, nesse momento, ser penalizado por ter sido correto com o governo federal.”
Isso não é novidade alguma. Não é de hoje que o Estado é tratado dessa forma, ao contrário de Pernambuco e Bahia, por exemplo. Se o governo federal respeitasse rigor fiscal, não estaria ele mesmo no buraco, com um déficit de R$ 17 bilhões em 2014.
Parceiro de eleição
“Eu acho que o governo federal tem que medir quem é que está trabalhando corretamente ao longo dos anos, para não sermos penalizados com uma medida de caráter geral. É preciso um olhar diferenciado por parte da presidenta Dilma e dos ministros, porque aqui nós somos parceiros não só de gestão, mas fomos parceiros também da própria eleição da presidente Dilma.”
O apelo à lealdade não comoverá o pragmatismo da presidente ou dos ministros. Se palavra empenhada valesse algo para essa gestão, a construção da refinaria teria sido iniciada ou alguma compensação oferecida.
Transparência e má gestão
“Todo mês o Banco Central libera a informação do superávit primário, ou seja, a capacidade do governo federal de pagar os juros da dívida pública, seja ela bruta ou líquida, o nominal, esses indicadores todos. A população brasileira tem acesso a isso. Aliás, quem forma opinião nesse Brasil, todo mês está lá olhando essas informações do Banco Central. Portanto, estranho que, mesmo com alguém dizendo que as contas estavam boas, na realidade uma simples leitura do relatório do Banco Central faria perceber [que] que alguma coisa não vinha realmente bem adequada e administrada em relação a esses pontos.”
Pois é. Muito bem lembrado. Eu também estranho a surpresa de quem descobre somente agora que a situação fiscal do Brasil é gravíssima. Acontece que essas informações não estavam liberadas apenas para a população (essa não confere relatórios, por isso pode alegar ignorância dos fatos) e para formadores de opinião, como jornalistas, professores e empresários, mas também para políticos aliados que garantiam, nas eleições, que Dilma era sim boa gestora. Estranho é apoiar o que não está bem.
Moral da história: ninguém quer mais sair dizendo por aí que é parceiro de Dilma.
Por Wanderley Filho / Blog do Wanfil - Tribuna.
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