Groaíras Esta cidade da Zona Norte do Estado vem sofrendo com o abastecimento de água. A população reclama que há mais de sete meses, além do abastecimento irregular, a água que chega para o consumo tem cor e cheiro forte. A situação chegou a um ponto em que o funcionário público Luís Carlos Rodrigues levou ao conhecimento do Ministério Público por meio de denuncia na última terça-feira.
De acordo com Luís Carlos, o abastecimento feito por meio da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) para uso doméstico sai da torneira com cor de ferrugem e cheiro de cloro, causando incômodos e prejuízos.
Para ele, a situação se estende há tanto tempo devido à omissão dos consumidores. "Esse problema não é novo, vivemos isso desde o ano passado, mais ou menos por volta de setembro. Mas a população não se une para tentar resolver isso junto das autoridades, por isso decidi tomar a frente disso. Eu acredito que levando a situação para a Justiça, o problema deva ser resolvido", aposta ele.
Até para lavar as roupas, a água causa aborrecimentos para a população. "Não dá mais pra ter uma roupa limpinha sem manchas. As batas das minhas filhas, que são estudantes da área de saúde, ficam amareladas muito rápido, mesmo que se coloque uma quantidade absurda de alvejante na hora de lavar", aponta o morador.
Da mesma forma, a dona de casa Raimunda de Oliveira se sente prejudicada. Moradora de Groairas há 12 anos, afirma que sempre houve problemas no abastecimento. "Não tem como a gente ter uma roupa branca. Tudo que entra nessa água sai encardido. Não adianta nem esfregar, dá até desgosto. Isso quando tem água. Quase todo mês passamos dias sem ter o abastecimento, mas a conta não falta no fim do mês".
Para poder utilizar a água, ela tenta descobrir alternativas a fim de amenizar a coloração. "Eu deixo a água descansando na vasilha durante um dia inteiro. Depois coloco no filtro pra poder usar. Mesmo assim, tenho que lavar o filtro todos os dias. As velas ficam imundas. Quase todo mês compro velas novas".
A solução da funcionária pública Isabel Loiola para consumir a água foi comprar o produto. Ela não quer arriscar a saúde dela e da família, por isso, acaba pagando mais caro. "Hoje a gente paga duas vezes, porque tem essa água que sai da torneira e eu tenho dúvidas da qualidade. Tenho que comprar água mineral para beber e cozinhar".
O comércio de Luís Aquino também teve que apelar para compra de água. "Nós vendíamos sucos aqui, e tivemos que comprar água e aumentar o preço da produção. Hoje já não fazemos mais porque os fregueses reclamavam e as frutas acabavam sendo consumidas em casa porque ninguém pedia mais o suco", disse.
Artenio Mesquita mantém um blog com notícias da cidade e segundo ele, o problema não é apenas na cor da água ou o abastecimento. "Além desses transtornos que a população vem sofrendo, recentemente a caixa d´água que fica no Centro da cidade também começou a vazar. Chego de madrugada para trabalhar na padaria e vejo sempre um grande volume de água sendo desperdiçado devido a esse vazamento", afirma.
Obs.: Esse vazamento ocorre quando a caixa enche, não há ninguém, nenhum funcionário para desligar as chaves e nisso com o enchimento da caixa, o cano conhecido como"ladrão" passa a noite inteira derramando.
Sobre a cor amarelada presente na água que abastece Groairas, a Cagece informa que o fato é causado pela alta concentração de óxido de ferro, substância encontrada em abundância nas margens do Rio Acaraú, onde é realizada a captação pela Companhia. Para solucionar o problema, a Cagece está realizando durante esta semana aferições no volume de água captado, com a finalidade de mensurar a quantidade do produto que irá inibir a presença do ferro.
O trabalho será realizado até amanhã, segundo a Companhia. Com isso, acredita que, gradativamente, a água distribuída irá recuperando sua cor natural. A normalidade total dos padrões físicos deve acontecer até o dia 8 de junho, conforme prevê. A empresa afirma que a água está dentro dos padrões de qualidade exigidos, não representando danos à saúde da população.
De acordo com a legislação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é obrigação das Secretarias Municipais de Saúde a vigilância da qualidade da água em sua área de competência, em articulação com os responsáveis pelo controle de qualidade da água, de acordo com as diretrizes do SUS. Até o fechamento desta edição, o funcionário responsável por este serviço não foi encontrado.
TEXTO:JÉSSYCA RODRIGUES
COLABORADORA DIÁRIO DO NORDESTE.
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