quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Crack é responsável por 80% das internações de dependentes





O lado esquerdo do rosto ainda estava inchado. “Pegaram ele por aí”. Com olhar perdido a mãe tenta dar explicações. Baixa a cabeça. Olha para o filho. Talvez, os detalhes não sejam à reportagem O POVO, mas ao próprio sofrimento. Com 32 anos, ele está internado em um dos três hospitais psiquiátricos da Capital há um mês. É usuário “de tudo” há 16 “tristes anos”. “Cola, solvente, cocaína, álcool, crack... agora, está na gasolina também”, lamenta.

Enquanto a mãe narra infortúnios, ele, com as mãos, esconde o rosto. Com o som da voz abafada, suplica a quem, “apesar de tudo”, insiste na possibilidade de cura. “Tá bom, mãe! Para! Dói (lembrar)... Não quero mais”, ele sussurra. “Mas é difícil”. E silencia. E sai. Como o rapaz de sonhos sufocados, 80% dos dependentes químicos internados nos hospitais psiquiátricos de Fortaleza estão ali, principalmente, por causa do crack, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) contabiliza haver 6 milhões de brasileiros dependentes. “O problema é muito sério e só aumenta. O que a gente tem para essa população? Praticamente nada que traga resultados realmente eficazes”, conclui o vice-presidente do Núcleo de Psiquiatria do Estado do Ceará (Nupec), Fábio Gomes de Matos e Sousa.

Fábio, que também é professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que 10% da população tem algum tipo de dependência química (álcool e outras drogas), o que representa, em Fortaleza, aproximadamente, 250 mil pessoas. Segundo a Prefeitura, cerca de três mil são atendidas por mês nos seis Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), da Capital. Para pacientes dependentes, há ainda 12 vagas na Unidade de Desintoxicação (UD), da Santa Casa de Misericórdia, e 20 vagas na UD do Hospital de Saúde Mental de Messejana. Não é possível saber quantos são os dependentes químicos internados nos Hospitais São Vicente de Paulo e Nosso Lar, já que a Central de Leitos do Município não faz distinção entre os motivos de internação.

“Não consigo sozinho”“Eu queria que pudesse existir um local só para dependentes químicos. Não acho certo todo mundo junto” avalia o rapaz de 25 anos. Dependente há 11 anos, internado, quer sair do hospital também para olhar com dignidade para o filho de oito anos. “Sei que posso ser bom pai e que ainda posso dar um bom exemplo de superação”.

Ele diz que não consegue desvencilhar-se do vício sozinho. Por isso, pede para ser internado mesmo sentindo falta de atividades de entretenimento e formação para a reinserção no mercado de trabalho dentro do hospital psiquiátrico.

Segundo a Prefeitura de Fortaleza, na linha do tratamento aos dependentes químicos - não especificamente de crack -, desde 2011 existem 120 vagas em seis comunidade terapêuticas parceiras, com promessas de criação de mais 120 vagas no próximo ano.

ENTENDA A NOTÍCIA


A redução de leitos se reflete também na falta de tratamentos mais ostensivos no combate à epidemia de crack. Médicos reclamam de poucos lugares onde o dependente químico tenha muito mais que tratamento medicamentoso


FONTE: O Povo Online.

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