Resolvida a eleição de Fortaleza, Cid Gomes (PSB) tirou uns dias para se dedicar à política nacional. E o fez de forma ousada. Surpreendente até. Entre os afagos que a presidente da República lhe dedicou por conta da política educacional inspirada no Ceará, Cid acabou por prestar um grande serviço à mandatária e, é claro, a si mesmo.
Em um cenário onde Eduardo Campos (PSB-PE) despontava sozinho como garoto prodígio, o governador do Ceará colocou um freio nas possíveis pretensões imediatas do neto de Miguel Arraes e se tornou o primeiro avalista de peso fora do PT a favor da reeleição de Dilma Rousseff em 2014.
Movimentando-se como um enxadrista, Cid foi bem além. Aos microfones que lhe apareceram, a fala o governador empurrou a candidatura presidencial de Eduardo Campos para 2018 e ainda sugeriu para este a vaga de vice, que pertence hoje ao PMDB. Não que tal lugar não sirva ao próprio Cid.
Trocando em miúdos, Cid se comportou como o piloto de Fórmula 1, que, numa manobra supostamente despretensiosa e ainda no início da corrida, aproveita a curva, tira o colega de equipe da pista e o obriga ir ao box para trocar a peça avariada e refazer a estratégia. “Ele (Eduardo Campos) é jovem, precisa andar mais, conhecer melhor o Brasil. Ninguém vai morrer por causa de quatro anos”, disse.
A ação de Cid Gomes não se restringiu ao PSB. No disse-me-disse dos royalties do pré-sal, distribuiu estocadas e ironias dirigidas ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que choramingava perdas financeiras advindas da aprovação do projeto. Cabral achou por bem não responder, mas, seu estilo pessoal indica que deixará esfriar o prato da “vingança”.
O alvo agora já era o PMDB, o partido que se apresenta como o principal aliado nacional do PT. Ironias para Sérgio Cabral e uma cutucada com vara curta no vice-presidente Michel Temer. Cid recomendou ao vice que se candidate a senador por São Paulo para que seu lugar seja concedido ao PSB.
Certamente Cid ganhou muitos pontos com Dilma e com a cúpula do PT. De todo modo, não se sabe se esse emaranhado terá efeito prático na política nacional, mas os efeitos locais serão sentidos a curtíssimo prazo. O voo nacional de Cid foi tão favorável à Dilma que o PT do Ceará foi emparedado.
Explica-se: o PT só pensa naquilo. O PT se move muito mais pelo seu projeto de poder nacional do que pelos projetos locais. Então, se Cid se coloca como aliado de primeira hora do projeto nacional petista, só cabe ao PT apoiá-lo aqui.
E, apostem, assim será.
Para conforto de uns e menos desconforto de outros, é claro que a ideia da chamada repactuação da aliança do PT com o PSB no Ceará deverá ganhar alguns contornos. Hoje, mais do que nunca, os secretários de Cid filiados ao PT são muito mais cidistas do que muitos cidistas natos.
Esperemos os próximos atos.
Fonte: Fábio Campo, Jornal O Povo via Sobral em revista.
Criticar é muito fácil. O fato é que Sérgio Cabral é um ótimo governador e defende o seu povo como ninguém.
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