segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

'Abri o freezer, puxei o ar e achei a saída', diz sobrevivente da Kiss

Ingrid Goldani, 20, que respirou ar do freezer da boate Kiss e conseguiu escapar da fumaça
Quase sufocada em meio à densa e tóxica fumaça, a estudante de enfermagem Ingrid Goldani, 20, tomou uma decisão que salvou a sua vida: abriu um freezer no bar da boate, colocou a cabeça para dentro, puxou o ar, prendeu a respiração e saiu em disparada rumo à saída.

"Quando percebi já estava tudo preto por causa da fumaça, não sei como e por que, mas lembrei que o único lugar que poderia ter ar limpo era o freezer. Abri a porta e puxei duas vezes o ar. Coloquei um pano no rosto, porque estava queimando tudo, meus olhos doíam muito."
Ingrid era funcionária da casa e, portanto, sabia o caminho até a calçada.
"Fechei os olhos e pulei o balcão, fui tateando até encontrar um rapaz já quase na porta da saída. Como conhecia bem a boate, ficou mais fácil achar a saída. Com certeza, se não fosse pelo freezer, eu não teria sobrevivido."

Ela deixou a UTI do Hospital Conceição, em Porto Alegre, na última quinta. Na rápida conversa com a Folha, por telefone, tossia bastante.
De acordo com o seu irmão, Fábio, 26, ela foi a primeira a ser diagnosticada com suspeita de pneumonia tóxica.
Ele conta que, no dia do incêndio, Ingrid ficou por quatro horas em a frente à boate em busca de amigos.
Ainda no domingo à tarde, Ingrid sentiu falta de ar e foi levada ao Hospital Universitário de Santa Maria, onde foi imediatamente entubada e, no dia seguinte, transferida com urgência a Porto Alegre.

TUDO PRETO E SEM AR

"Eu estava em frente ao palco, atendendo na área VIP. Foi tudo muito rápido. Só fui me dar conta quando já estava tudo cheio de fumaça. Disse pra minhas colegas irem saindo e me abaixei para pegar alguma coisa que caiu no chão. Quando levantei, já estava tudo preto daquela fumaça. Eu não conseguia mais respirar."
Com o ar do freezer e uma camisa no rosto, teve dificuldades para sair da casa.

"Quando já estava quase na porta, eu caí. Um rapaz tentou me puxar, mas as minhas pernas estavam presas, e ele puxou outra menina que estava solta", disse.
"As pessoas estavam me pisando muito, aí eu implorei: 'Me tira daqui, por favor, senão vão quebrar as minhas pernas'. Aí ele voltou para me puxar e, só na quarta vez, conseguiu. Não sei quem era, mas foi antes dos bombeiros chegarem", completou.
Pai de Ingrid, o gerente de manutenção Flávio Goldani, 49, diz que os culpados pela tragédia precisam ser localizados e julgados. "Estamos muito felizes que a Ingrid está melhor. Em primeiro lugar deve vir a recuperação dela."

Fonte: A Folha.

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