quarta-feira, 5 de agosto de 2015

10 anos após roubo ao Banco Central, casa que abrigou quadrilha não foi mais alugada

Três meses antes da ação, o imóvel foi alugado a cerca de 80 metros do Banco Central (FOTO: Tribuna do Ceará/Roberta Tavares)

Ela foi o ponto de partida do maior assalto a banco do Brasil. Solitária, abandonada e fechada com cadeados, a casa de número 1.071 da Rua 25 de Março parece guardar – a sete chaves – memórias daqueles três meses de planos, conversas e toneladas de dinheiro furtadas no Banco Central, em Fortaleza. “Desde então, a casa nunca mais foi alugada. Não vejo ninguém entrando aí”, admite o marceneiro Francisco Moraes, que trabalha na região há 20 anos.

O Tribuna do Ceará foi ao local, na tentativa de relembrar a história tão comentada em 2005 e que resultou no furto de R$ 164,7 milhões do banco considerado referência no esquema de segurança. Ao bater palmas para chamar um possível morador da residência, ninguém atendeu. Periquitos piando são os únicos indícios de vida no imóvel. “Não sei se tem alguém cuidando da casa, parece até assombração”, afirma o trabalhador.

A vizinhança recebe a imprensa de forma desconfiada. Portas fechadas, olhos curiosos e frases feitas. As lembranças daquele fim de semana (5 e 6 de agosto de 2005) parecem querer cair no esquecimento. “Estou ocupado”; “Não quero falar”; “Não tem ninguém que queira lembrar isso não”. Ao lado da residência abandonada, o proprietário de uma pousada revela: “Tem uma pessoa responsável pela casa, mas só dá entrevista se for pagando”. No entanto, indagado sobre quem seria essa pessoa, assustado, entrou no estabelecimento e fechou o portão.

Para o marceneiro Francisco Moraes, o proprietário do imóvel deveria transformar o silêncio e descuido da casa em um local histórico. “A história está ali dentro. A casa é uma celebridade. Imagina como seria legal disponibilizar a residência para visitação?”, dá a dica.

Em maio de 2005, três meses antes da ação, o imóvel foi alugado a cerca de 80 metros do Banco Central. O valor do aluguel era simbólico na frente do montante levado, apenas R$ 600 por mês. A simples residência de muro branco e detalhes azuis abrigou a organização criminosa disfarçada de uma empresa de Gramas Sintéticas, assim não levantavam suspeitas com a movimentação de terra retirada do túnel.

“A história está ali dentro. A casa é uma celebridade. Imagina como seria legal disponibilizar a residência para visitação?” (Francisco Moraes, vizinho)

Pelo menos 30 pessoas cavaram o túnel da casa 1.071 até a caixa-forte do Banco Central, na Avenida Dom Manuel, no Centro de Fortaleza. Com conhecimento de engenharia e munidos de mapas dos sistemas subterrâneos de água, esgoto e telefone da região, eles começaram a escavação. A organização se revezava em três turnos, sendo 10 pessoas em trabalhos de 8 horas. “Tinham uns que fizeram até amizade com a vizinhança. Eles foram muito inteligentes, pensaram em tudo e enganaram todo mundo”, conclui o marceneiro. No caminho de volta, divide o “tchau” para a reportagem com um olhar inconsolável. Até quem passa por ali há anos parece não acreditar no que se passou naquela casa.

Plano cinematográfico

O furto começou na noite de uma sexta-feira, dia 5 de agosto de 2005, teve continuidade durante a madrugada e término na manhã do dia seguinte, sábado, dia 6 de agosto de 2005. Após meses de escavação, tendo chão de terra, ferro, concreto, sistema de esgoto e calor como obstáculos, os bandidos percorreram o túnel de 80,5 metros de extensão, sendo sua estrutura formada por 65 centímetros de largura por 70 centímetros de altura.

Ao chegar na caixa-forte do Banco Central, eles serraram as grades de um contentor (espécie de gaiola que protege o dinheiro), para passar por um corredor e ter acesso aos fundos do local, onde conseguiram violar o total de seis contentores. O grupo furtou R$ 164,7 milhões em notas de R$ 50, que haviam sido recolhidas de circulação.

Foram cerca de 3,5 toneladas de notas transportadas durante nove horas. Os cúmplices se revezavam para levar o dinheiro em tambores cortados na metade e puxados com os braços até à casa alugada na Rua 25 de março. Os líderes da quadrilha eram Antônio Jussivan Alves dos Santos, vulgo Alemão, e Luís Fernando Ribeiro, Fernandinho, que financiou a organização criminosa.

A polícia descobriu o furto dois dias depois do crime, em 8 de agosto de 2005. O caso moveu Polícia Civil, Ministério Público e Justiça Federal, que realizaram a investigação dividida em fases. A operação policial durou cinco anos com o auxílio de escutas telefônicas e depoimentos. Foram 28 ações penais, com 133 réus, entre eles financiadores, executores e envolvidos com lavagem de dinheiro. Destes, 94 foram condenados, sendo 30 deles com participação direta na ação, e 16 absolvidos.

Ainda restam 26 pessoas que aguardam sentença por lavagem de dinheiro. Inicialmente, a Polícia Federal conseguiu reaver R$ 12.523.915,87, através da apreensão de bens e leilões. Com o avanço das investigações, foram recuperados, no total, mais de R$ 40 milhões do dinheiro furtado do Banco Central. Com 10 anos do crime digno de roteiros de Hollywood, ainda há R$ 120 milhões circulando por aí.

Fonte: Tribuna do Ceará.

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