No Estado que registra o terceiro maior índice de homicídios do país, segundo o Mapa da Violência, Wagner Sousa Gomes, o capitão Wagner, ganhou projeção com a bandeira da segurança pública. Líder da pior greve enfrentada pelo governador do Estado, Cid Gomes (Pros) em seus dois mandatos, o parlamentar teve uma ascensão meteórica na política cearense, com apoio da corporação e dos adversários dos irmãos Gomes, e bateu outro recorde de votação ao se eleger vereador em Fortaleza. A cidade é considerada a segunda mais violenta do país.
Com 35 anos, Wagner é oficial da polícia militar há 15 anos e engajou-se na política partidária em 2010. Dentro da corporação, passou a ter papel de liderança ao enfrentar o comando da PM, na luta por melhores condições de trabalho e de renda, e lançou-se candidato a deputado estadual em 2010. "Me rebelei ao falar que a gente trabalha, produz, mas precisa de melhores condições de trabalho. Para um militar, falar sobre isso é uma afronta", diz. "Mas integrantes da corporação viram na pessoa do capitão Wagner uma pessoa de coragem para reivindicar melhorias", afirma, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa.
Capitão Wagner procurou o PSOL, mas diante da falta de interesse do partido, diz, negociou a filiação com o presidente do diretório estadual do PR, o ex-governador Lucio Alcântara, opositor aos Gomes.
Em sua primeira eleição, em 2010, para a Assembleia, teve 28,8 mil votos. "A partir dessa candidatura as perseguições aumentaram muito. Fui transferido para quatro cidades diferentes em um mês. Vi que a perseguição ia acabar culminando com a minha demissão".
Para driblar a pressão do governo, o PR fez com que uma deputada estadual do partido se licenciasse para que Wagner pudesse assumir uma cadeira na Assembleia em setembro de 2011. Três meses depois, articulou e liderou uma grande greve da polícia às vésperas do reveillón. Entre as reivindicações estavam o reajuste salarial e redução da jornada de trabalho.
Em clima de pânico, a população temia por assaltos, saques e arrastões e parte do comércio de Fortaleza fechou as portas. O governador decretou estado de emergência e pediu reforços, com homens do Exército e Força Nacional. Desde então o capitão tornou-se desafeto dos irmãos Gomes.
Capitão Wagner saiu fortalecido dentro da corporação depois dos seis dias de greve. Em 2012, lançou-se à Câmara Municipal de Fortaleza e recebeu 43,6 mil votos, quase 15 mil votos a mais do que tinha recebido dois anos antes em todo o Estado. Como vereador, além de enfrentar Cid, fez oposição ao prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (Pros), afilhado político dos irmãos Gomes.
Neste ano, Wagner elegeu-se deputado estadual com 194,2 mil votos, quase o dobro do segundo mais bem votado. A articulação com oficiais militares é feita em contato direto com os cerca de 3,5 mil filiados à associação de profissionais de segurança da qual é presidente, e de uma associação que reúne quase 7 mil cabos e soldados, presidida pelo cabo Sabino (PR), eleito deputado federal em uma dobradinha com Wagner.
"As perseguições só têm aumentado", afirma. Nesta eleição, os irmãos Gomes entraram em conflito com oficiais militares, por apoiarem o capitão e Eunício Oliveira. Em meio ao clima tenso com a corporação, a segurança pública pautou o debate do segundo turno e o governador abriu processo contra oficiais que declararam apoio a Wagner e Eunício. O capitão diz ter sido alvo de calúnia e respondeu processos administrativo e criminal. "Disseram que sou chefe de milícia, envolvido com narcotráfico. Foram abertos inclusive processos, mas nenhum deles provou que tinha qualquer envolvimento com coisa errada. Se tivesse, por ser opositor do governo, com certeza já estaria atrás das grades", diz.
Entre a eleição de 2010 e de 2014, o patrimônio de capitão Wagner mais do que dobrou, de R$ 130 mil para R$ 340 mil.
Sem os irmãos Gomes no comando direto do Ceará, o parlamentar diz que sua relação com Camilo tende a ser melhor. "A família Gomes está no poder há muito tempo e viu na figura do capitão Wagner uma pessoa que pode crescer, a ponto de ameaçar o plano que eles têm de se eternizar no poder", afirma. "A tensão diminui. Tudo vai depender do bom senso do novo governador, de chamar a categoria para dialogar", diz. "Vai voltar a ter polícia respeitando governo. Hoje não tem isso".
Capitão Wagner diz que dará prazo de seis meses para Camilo. "Não tem como em janeiro colocar a faca no pescoço, exigindo que tudo seja solucionado, diz.
O parlamentar afirma ter um plano com 38 pontos para Segurança Pública, que poderá ajudá-lo a pavimentar sua candidatura à prefeitura da capital. "A candidatura é consequência do trabalho. Se fizer bom trabalho durante um ano e meio, dois anos e se for o desejo da população... Mas só vou tomar a decisão no começo de 2016."
* Com informações do Valor Econômico
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