Esse é um dilema de longo prazo e não tem solução fácil. Exige mudança da sociedade como um todo, apontam especialistas. A alta escolaridade, comparam, deve estar aliada ao princípio da vocação. Apenas por ser especialista, não significa que o profissional vai executar seu trabalho com eficiência. “Depende dos valores morais, culturais e éticos. A má prestação de serviço acontece tanto no setor público quanto no privado. Reflete uma sociedade em que o título vale mais que a pessoa. É importante lembrar, diga-se de passagem, que o povo tem o governo e o burocrata que merece”, avaliou a professora Monica Pinhanez, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Ontem, Dia do Servidor Público, o presidente Michel Temer, em nota, “agradeceu a dedicação e o empenho” da categoria. “Nenhum país sobrevive e nenhum governo exerce o seu papel sem o corpo de servidores, responsáveis pelo trabalho diário. Devemos sempre ter consciência do nosso papel no contexto do Estado e do nosso país”, destacou na mensagem.
Antes de apontar o dedo ao servidor público, na opinião de Monica, os brasileiros devem analisar o tipo de Brasil que querem e a relação de poder a ser estabelecida, além de incentivar o bom tratamento e a civilidade entre as partes, assinalou. Para ela, há abusos dos dois lados: do servidor e do contribuinte. Reclama-se muito, explicou, da estabilidade. “Sem dúvida é uma faca de dois gumes: pode incentivar exageros, mas também protege o funcionário para atuar sem ser perseguido. Não seria necessária se alguns maus contribuintes nunca tivessem também se aproveitado do poderio econômico para constranger ou ameaçar. Não esqueçamos disso”, enfatizou.
Motivação
No serviço público, lembrou Monica Pinhanez, há cargos em que a exigência de mestrado ou doutorado é compatível. E o concurso público, ao auferir somente o conhecimento, seleciona sempre os mais preparados. No entanto, questões subjetivas e intrínsecas, como dedicação e motivação, não são consideradas. “Até porque são critérios difíceis de mensurar. É complexo prever desvio de função, abuso de poder ou até corrupção. Vão além da questão meritocrática”, definiu Monica.
Via Correio Brasiliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário