domingo, 30 de outubro de 2016

Aécio perde força política, após derrota em Belo Horizonte


Não é fácil ser o senador Aécio Neves, presidente do PSDB. Neste domingo, o candidato de Aécio, deputado estadual João Leite, também do PSDB, perdeu para Alexandre Kalil, do PHS, um neófito na política, a disputa pela prefeitura de Belo Horizonte. Leite liderou a campanha eleitoral com folga até o início do segundo turno, quando foi ultrapassado e amargou sua terceira derrota em tentativas de eleger-se prefeito da cidade. Na semana passada, Aécio cancelou tudo que podia e se dedicou à campanha de Leite em Belo Horizonte. Não deu. A disputa no segundo turno agradou à torcida Atlético Mineiro, pois Leite foi goleiro de equipes históricas do Galo na década de 1980, e Kalil foi um vitorioso presidente do clube. Aécio, no entanto, é cruzeirense.

A derrota de João Leite é mais um fator negativo em um cenário que não tem sorrido para Aécio. Do ponto de vista mineiro, ele perde uma eleição municipal que parecia ganha desde o início, pois Leite era um candidato forte em uma disputa na qual não havia o PT; Kalil surgiu como um azarão, de um partido minúsculo, e venceu. Uma derrota assim é mais doída. E Aécio perde novamente em casa: em 2014, ele foi derrotado em Minas por Dilma Rousseff na disputa presidencial – isso apesar de ter tido duas gestões muito bem avaliadas como governador e ter feito o sucessor no cargo. Na ocasião, o resultado foi decisivo para sua derrota nacional. Apesar de não haver um político mineiro de maior expressão nacional hoje, a liderança de Aécio no Estado não parece ser tão firme.

Do ponto de vista partidário, a derrota também chega em um momento de fragilidade para Aécio. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, enxerga-se como concorrente de Aécio à vaga de candidato do partido à Presidência da República em 2018. É um cenário ainda bastante distante e incerto, ainda mais em tempos das surpresas da Operação Lava Jato. Mas, na rotina dos políticos, essa expectativa de poder conta. Em contrapartida à derrota de Aécio hoje, o candidato de Alckmin à prefeitura de São Paulo, João Dória Júnior, elegeu-se de forma surpreendente no primeiro turno. Alckmin pode sorrir; Aécio, não. Nas negociações internas, Alckmin está “com moral” para exigir mais espaço no partido e avançar; Aécio tem de defender-se. É claro que a influência do resultado da eleição municipal numa disputa pelo controle do PSDB é limitado: o que conta, na verdade, é o apoio que cada um tem no partido como um todo, especialmente das bancadas no Congresso.

Nesse terreno, Alckmin – sempre mais centrado em São Paulo - não é páreo para Aécio, um líder nacional consolidado. Mesmo assim, em vez de avançar, Aécio terá de defender seu espaço e ceder postos ao concorrente. Uma eventual vitória de João Leite, se tivesse vindo, tornaria este trabalho mais fácil para Aécio. Na configuração atual, Alckmin é governador e tem o prefeito da capital do seu Estado; Aécio não tem o prefeito e tem no governo do Estado um opositor, o petista Fernando Pimentel. É certo que Pimentel está enfraquecido pela derrocada do PT e pela sua própria, fruto da Operação Acrônimo, que bate à porta para tira-lo do cargo; mas, de toda forma, ainda está lá.

A situação só não é de todo ruim porque Aécio se beneficia do quadro geral da eleição, no qual o PSDB teve uma expressiva vitória em todo o país. Graças em grande parte ao naufrágio descomunal do PT, o tucanato cresceu e só obteve menos prefeituras que o eterno PMDB. No momento em que o espaço se abriu, o PSDB avançou e conquistou. A derrota em Belo Horizonte foi uma exceção que confirma a regra. Em sua gestão como presidente, o PSDB cresceu e é o principal partido de sustentação do governo de Michel Temer, com direito a ministérios e cargos. Esta vitória Aécio pode arrogar a si.

Fonte: Época.

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