Na próxima legislatura, a bancada governista na AL será igual ou maior que a atual ( Foto: Fabiane de Paula )
Nas últimas três décadas, em apenas uma eleição a oposição chegou ao Governo do Estado do Ceará e, ainda assim, por ter contado com o desmantelamento da base governista, nos estertores do Governo Lúcio Alcântara, iniciado em 2002. Os políticos cearenses são, na sua amplíssima maioria, governistas por excelência.
Nas eleições deste ano, pelo cenário posto, tudo vai ser como antes, pois os adversários do atual governante, por razões várias, não dão qualquer esperança de sucesso eleitoral, o que não deixa de ser deveras lamentável, posto resultar da ação eficiente e respeitável da oposição, o estímulo maior para uma profícua gestão.
Pelo encaminhamento da disputa deste 2018, só vamos ter uma eleição majoritária disputada no Ceará, quando e se houver o rompimento do grupo político atualmente dominando o Poder, assim como ocorreu em 2006, pois não há nomes promissores, no cenário local, com perspectiva de despontarem como futuras lideranças.
Desde o início da década de 1980 que os governistas revezam-se na chefia do Poder Executivo estadual. Cid Gomes, então filiado ao PSB, em 2006, derrotou Lúcio Alcântara (PSDB), candidato à reeleição. Também aqui uma exceção, Lúcio foi o único candidato a um consecutivo segundo mandato a não lograr êxito na empreitada.
Pouco expressiva
Ele havia perdido o apoio do senador Tasso Jereissati, o seu principal eleitor, como este houvera sido de Ciro Gomes, na eleição de 1990. Lúcio ficou na oposição, mas nada a ela acrescentou, tanto que em 2010 voltou a disputar o Governo contra Cid, buscando a reeleição, e acabou com a votação pouco expressiva que o deixou no terceiro lugar no final do pleito.
Nas últimas oito eleições para o Executivo estadual cearense, só em 2014, com Camilo Santana representando a base governista, as oposições realmente foram expressivas. O senador Eunício Oliveira, saído do grupo de Cid Gomes, perdeu a disputa no segundo turno e por uma pequena margem de votos. Antes, também, José Airton provocou um segundo turno com a soma dos votos dados aos candidatos Welington Landim e Sérgio Machado, ambos desgarrados do grupo liderado pelo senador Tasso Jereissati.
Cid foi o governador, do período a que estamos nos reportando, com a maior base de apoio político-partidário, seguido agora por Camilo. Ambos, é imperioso se afirmar, não tiveram necessidade de fazer o tradicional trabalho de aliciamento. As adesões recentes, às vésperas das eleições, do deputado federal Genecias Noronha, do senador Eunício Oliveira, e do ex-vice governador Domingos Filho, os dois últimos protagonistas de embates verbais duríssimos com as principais lideranças governistas, são uma prova real de quanto é efêmero o compromisso de políticos de hoje com os eleitores que os sufragam.
O quadro atual, registre-se, por oportuno, não é muito diferente dos períodos anteriores, sobretudo desde quando a tal Revolução de 1964 extinguiu os partidos políticos e foram criados Arena (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro), gerando aglomerados de políticos e fazendo nascer um novo grupo de políticos, o governista, bem expressado na máxima de um conhecido vereador de Fortaleza, segundo o qual ele “não tinha culpa de o Governo mudar de quatro em quatro anos”.
Lamentável
Ele sempre tinha a marca do Governo da época dos generais e coronéis, ou por pessoas por eles indicados, no caso o municipal. O compromisso da quase totalidade dos situacionistas é, na melhor das hipóteses, exclusivamente suas eleições, ou de alguns dos seus.
Essa realidade, enfatizamos, lamentável, pode fazer com que o general Guilherme Theophilo (PSDB), o principal candidato adversário de Camilo, tenha a sorte do seu primo, o ex-presidente da Assembleia, Marcos Cals, em 2010, quando representando o PSDB concorreu com Cid Gomes, obtendo apenas 775.852 votos, pouco menos de um terço do total recebido pelo vencedor, deixando Lúcio Alcântara no terceiro lugar, ao conquistar 654.035 sufrágios. O somatório da votação de Cals e Alcântara confirma a tese da existência de um percentual de 30% do eleitorado de oposição a qualquer governante, sem a necessidade de qualquer estímulo de políticos adversários.
O individualismo dos políticos e o desejo de estarem sempre ao lado do governante são as razões motivadoras de isolarem-se, logo na própria campanha, dos candidatos ao Executivo sem perspectivas evidentes de vitória, tanto que o somatório dos votos recebidos pelos candidatos aos legislativos ficam muito aquém daqueles conquistados pelos candidatos a governador de oposição.
Afastamento
As consequências disso, porém, são um Congresso Nacional, Assembleias e Câmaras Municipais cada vez mais subservientes ao chefe do Executivo de plantão, desqualificando-se e causando elevados prejuízos à socie dade.
A perspectiva de composição da Assembleia a ser eleita em outubro vindouro é a de ser tão governista quanto a atual, quando quase 90% dos 46 deputados são do governador, sempre dispostos a dizer amém, e incapazes de fazer uma crítica, até mesmo construtiva, sobre qualquer ação ou omissão governamental, para não ferirem susceptibilidade e, assim, sofrerem a punição do afastamento, situação insuportável para todos aqueles aduladores que entender ter sido eleitos para bater palmas para o governador do momento.
*Diário do Nordeste
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