segunda-feira, 11 de maio de 2020

#Verificamos: É falso que, no Ceará, o número de mortes por doenças respiratórias diminuiu em 2020


Circula pelas redes sociais um post sobre as mortes por doenças respiratórias no Ceará. De acordo com a publicação, ocorreram menos óbitos com esse tipo de causa entre 16 de março e 10 de maio deste ano do que em 2019. Na data inicial do período analisado houve a primeira morte confirmada no país de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Segundo o post, os dados foram extraídos do Portal da Transparência do Registro Civil. Por meio do ​projeto de verificação de notícias​, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa​:

“Óbitos por doenças respiratórias no Ceará*:

2019 sem Covid: 6.377

2020 com Covid: 6.296

* Comparativo do mesmo período – 16/março a 10/maio

Fonte: Portal da Transparência – Registro Civil

Por que em 2019 não teve o mesmo alarde?”
Texto de imagem em post no Facebook que, até as 16h de 11 de maio de 2020, tinha 109 compartilhamentos

FALSO

A informação analisada pela Lupa é falsa. Além de estarem desatualizados, os números citados no post incluem erroneamente mortes por outras causas, que não têm nenhuma relação com problemas respiratórios. Após a atualização feita à 0h desta segunda-feira (11), os dados do Portal da Transparência do Registro Civil indicavam 2.808 óbitos por doenças respiratórias no Ceará no período citado em 2019 contra 3.217 em 2020 – ou seja, houve aumento de pelo menos 409 casos no estado, o que equivale a um acréscimo de 14,5% em relação ao registrado no ano passado.

Os números vêm do Painel Covid Registral, um módulo do Portal da Transparência do Registro Civil que traz informações sobre mortes por doenças respiratórias com base no local de falecimento atestado pelos médicos em 2019 e 2020. As informações estão discriminadas em sete categorias, sendo que apenas seis delas podem ser relacionadas a doenças respiratórias: COVID (Covid-19); SRAG (síndrome respiratória aguda grave); pneumonia; insuficiência respiratória; septicemia; e causa indeterminada.

A assessoria de imprensa da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), que administra o Portal da Transparência do Registro Civil, afirmou, em mensagem enviada pelo WhatsApp, que a sétima categoria da lista, “Demais óbitos”, reúne mortes relacionadas a outras doenças ou causas, incluindo câncer, aids, acidente vascular cerebral ou infarto. Não estão contabilizadas nesse último item as mortes violentas, como assassinatos, acidentes e suicídios, nem doenças respiratórias. O post que circula pelas redes sociais fez uma conta errada, incluindo também os “Demais óbitos” na soma total de mortes por doenças respiratórias no Ceará. Por esse motivo, chegou aos resultados exibidos na imagem compartilhada pelo Facebook.

Além disso, esses números vão mudar nos próximos dias, o que deve resultar em aumento do total de casos de 2020 em relação a 2019. Isso ocorre porque a atualização de informações no Portal da Transparência do Registro Civil segue os prazos legais – ou seja, não é imediata. O registro em cartório de um óbito pela família pode demorar até 24 horas. Os estabelecimentos, por sua vez, levam até cinco dias para concluir o processo. Depois, têm mais oito dias para enviar os dados para a Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), que atualiza o site. Uma pessoa que morreu em 10 de maio, por exemplo, pode aparecer na contagem da página só duas semanas depois.

A peça de desinformação foi criada e compartilhada pelo deputado estadual André Fernandes (PSL-CE) na sua página no Facebook e nos seus perfis no Twitter e no Instagram. A Lupa questionou a assessoria de imprensa do parlamentar sobre as informações falsas presentes no post por WhatsApp e e-mail, mas não obteve nenhuma resposta até a publicação desta checagem.

Nota:‌ ‌esta‌ ‌reportagem‌ ‌faz‌ ‌parte‌ ‌do‌ ‌‌projeto‌ ‌de‌ ‌verificação‌ ‌de‌ ‌notícias‌‌ ‌no‌ ‌Facebook.‌ ‌Dúvidas‌ sobre‌ ‌o‌ ‌projeto?‌ ‌Entre‌ ‌em‌ ‌contato‌ ‌direto‌ ‌com‌ ‌o‌ ‌‌Facebook‌.

*piaui.folha.uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário