(Divulgação)
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje entender que "não é culpa dele" o recorde diário de mortes por coronavírus e atribuiu a responsabilidade aos governadores e prefeitos por conta de medidas restritivas adotadas no enfrentamento à pandemia.
"Imprensa tem que perguntar para o Doria (governador de São Paulo) porque mais gente está perdendo a vida em São Paulo, pergunta para ele. Tomou todas as medidas restritivas que achou que tinha que tomar. Não adianta a imprensa botar na minha conta essas questões que não cabem a mim. A minha opinião não vale, o que vale são os decretos de governadores e prefeitos", disse.
Na sequência, o presidente disse que se solidarizava com os familiares das vítimas, o que gerou reclamações de que a imprensa teria deturpado a totalidade de sua fala.
"Messias", o nome do meio do presidente, é a figura do salvador (Jesus Cristo, entre os cristãos). A ironia provocou repúdio e repercutiu em vários setores da sociedade. Figuras de diferentes posicionamentos, tanto à direita quanto à esquerda no espectro político, criticaram a fala do mandatário.
Hoje, Bolsonaro escalou deputados aliados para atacar a imprensa, criticar governadores e prefeitos e se defender de questionamentos.
Ele citou especificamente o caso de São Paulo, com críticas ao governador João Doria (PSDB) e ao prefeito da capital, Bruno Covas (PSDB).
"Pergunte ao senhor João Doria e a o senhor Covas por que tomaram medidas tão restritivas que eliminaram mais de um milhão de empregos em São Paulo e continua morrendo gente. Eles têm que responder, vocês não vão botar no meu colo essa conta", disse.
"Coisas que não cabem"
Ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã de hoje, Bolsonaro afirmou que a imprensa tentou "colocar na conta" dele "coisas que não cabem" ao chefe do Executivo federal. Além disso, bateu boca com os repórteres que o aguardavam —um deles foi chamado de "mentiroso".
De acordo com o raciocínio do presidente, a culpa pelos óbitos decorrentes da covid-19 é de governadores e prefeitos porque eles foram responsáveis pelas medidas restritivas de enfrentamento, como o isolamento social.
A medida é recomendada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e vem sendo defendida por autoridades sanitárias em todo o planeta. Para o governo, no entanto, trata-se de um grave risco à economia do país. A divergência levou à demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.
"A minha opinião não vale. O que vale são os decretos de governadores e prefeitos", disse Bolsonaro. "A gente lamenta as mortes profundamente. Sabia que ia acontecer. Mas quem tomou todas as medidas restritivas foram governadores e prefeitos."
Não sejam agressivos e queiram colocar no meu colo uma conta que não é minhaJair Bolsonaro, em resposta à imprensa na manhã de hoje
Para o chefe do Executivo federal, estrutura de poder na qual está inserido o Ministério da Saúde, é necessário "cobrar responsabilidade a quem é de direito", isto é, governadores e prefeitos.
O presidente deixou o Alvorada acompanhado de mais de dez deputados que compõem a sua base ideológica no Parlamento. A portaria da residência oficial do governo acabou virando uma espécie de palanque, no qual os congressistas disputavam espaço para poder discursar. As declarações foram acompanhadas de reações exaltadas dos apoiadores bolsonaristas que se aglomeravam no local.
O alvo comum dos políticos foi a imprensa, desrespeitada durante todo o tempo. Uma deputada chegou a dizer que os veículos de comunicação e seus profissionais agiriam com "mau caratismo" devido à repercussão da fala de ontem de Bolsonaro.
"Isso é um mau caratismo. (...). Quem pode ficar em casa, que fique. Mas que não pode, acredite e confie no presidente", declarou a parlamentar.
*UOL
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