Da Grande Vitória, no Espírito Santo, aos confins da Brasiléia, cidade no sul do Acre que faz fronteira com a Bolívia, a falta d’água por causa da seca já afeta a vida de mais de 25 milhões de pessoas no Brasil. Levantamento feito pelo Estado em órgãos federais e estaduais mostra que 975 municípios brasileiros em 12 Estados e o Distrito Federal, incluindo capitais como Fortaleza e Rio Branco, chegaram neste mês em situação crítica ou de emergência por causa da estiagem ou já adotaram rodízio no abastecimento de água à população.
No Espírito Santo e no Distrito Federal, o racionamento de água começou há quatro dias. No caso da Grande Vitória (ES), os cortes de 24 horas feitos uma vez por semana atingem 1,8 milhão de moradores pela primeira vez na história da região. Isso porque a vazão dos dois rios (Santa Maria da Vitória e Jucu) usados para abastecer a área está 77% abaixo da média e o estoque de água na represa que alimenta os rios era suficiente para apenas 20 dias sem chuvas.
A situação é ainda mais crítica no semiárido do Nordeste, onde a estiagem perdura pelo quinto ano consecutivo, secando córregos, açudes e poços usados para irrigação e consumo humano. Neste mês, 754 cidades da região estão em situação de emergência reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional, o que garante ajuda financeira do governo federal para compra de caminhão-pipa e construção de adutoras. No Rio Grande do Norte e na Paraíba, a escassez de água atinge mais de 75% dos municípios.
“Estamos atentos a todas as regiões que passam por dificuldades no abastecimento e criamos um grupo de trabalho para construir estratégias de enfrentamento da seca para áreas com grande intensidade demográfica, como a de Campina Grande (PB), que há 100 anos não tinha uma estiagem tão extensa como esta e pode entrar em colapso no fim do primeiro trimestre de 2017”, disse o ministro Helder Barbalho. Lá, moram mais de 400 mil pessoas.
Segundo ele, a solução estrutural para resolver a seca no semiárido nordestino é a transposição do Rio São Francisco, cujas obras começaram em 2007. A previsão é de que a passagem das águas pelo eixo leste (Pernambuco e Paraíba) esteja pronta até dezembro e do eixo norte (Ceará e Rio Grande do Norte) no ano que vem, com cinco anos de atraso.
Dados da Agência Nacional de Águas (ANA), que monitora 511 açudes do Nordeste, mostram que o nível dos reservatórios que abastecem a região é de apenas 19%. O cenário é preocupante porque ainda faltam quatro meses para o início da chamada quadra chuvosa (fevereiro a maio). Em 2012, quando a estiagem começou, o índice era de 54% nesta época do ano.
No Ceará, por exemplo, mais da metade dos 151 reservatórios já secou ou tem menos de 10% da capacidade, como o açude Castanhão, principal fonte de abastecimento de Fortaleza. Desde a semana passada, o morador da capital cearense que não reduzir o consumo de água em 20% pagará multa sobre o volume excedente.
Norte
Até cidades que no ano passado decretaram estado de calamidade por causa de inundações, como Brasiléia e Rio Branco, no Acre, estão hoje em situação de emergência por causa da seca. O Rio Acre atingiu nas últimas semanas o nível mais baixo da história (1,30 metro de altura) e a capital entrou em rodízio no abastecimento. Há um ano o nível do rio era de 10,5 metros.
“Estamos vivendo a maior seca da história do Acre. Com a baixa do rio, as torres não conseguiram mais captar água normalmente e tivemos que usar bombas flutuantes e construir novas adutoras para fazer a captação em águas rasas e manter um abastecimento controlado”, disse Edvaldo Magalhães, presidente do departamento de saneamento do Estado.
El Niño
Fenômeno climático que ajudou São Paulo a sair da pior crise hídrica de sua história neste ano após duas temporadas de seca e racionamento de água, o El Niño foi o grande responsável por agravar a estiagem no Nordeste e no norte de Minas Gerais.
Segundo o meteorologista Christopher Cunningham, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o El Niño observado entre 2015 e 2016 foi o terceiro mais intenso já registrado na história e comprometeu ainda mais a quadra chuvosa do Nordeste, que vai de fevereiro a maio, enquanto aumentou as precipitações em parte do Sudeste.
“Esse episódio de El Niño foi o grande culpado. O Nordeste já vinha de três anos de seca por causa de um grande sistema de alta pressão que também afetou o Sudeste e provocou irregularidade nas chuvas. O El Niño levou uma corrente de água quente para o sul do continente, que provoca muita chuva no Sul do Brasil, às vezes com reflexo no Sudeste, como tivemos neste ano, mas inibe a formação de nuvens no Nordeste.” Não há perspectiva de melhora até fevereiro de 2017.
Em São Paulo, o El Niño acabou levando chuvas acima da média para o Sistema Cantareira a partir de novembro de 2015, o que fez com que o manancial deixasse de operar no volume morto em dezembro. O mesmo ocorreu na bacia do Rio Paraíba do Sul, que abastece a região metropolitana do Rio de Janeiro.
No Espírito Santo e no Distrito Federal, o racionamento de água começou há quatro dias. No caso da Grande Vitória (ES), os cortes de 24 horas feitos uma vez por semana atingem 1,8 milhão de moradores pela primeira vez na história da região. Isso porque a vazão dos dois rios (Santa Maria da Vitória e Jucu) usados para abastecer a área está 77% abaixo da média e o estoque de água na represa que alimenta os rios era suficiente para apenas 20 dias sem chuvas.
A situação é ainda mais crítica no semiárido do Nordeste, onde a estiagem perdura pelo quinto ano consecutivo, secando córregos, açudes e poços usados para irrigação e consumo humano. Neste mês, 754 cidades da região estão em situação de emergência reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional, o que garante ajuda financeira do governo federal para compra de caminhão-pipa e construção de adutoras. No Rio Grande do Norte e na Paraíba, a escassez de água atinge mais de 75% dos municípios.
“Estamos atentos a todas as regiões que passam por dificuldades no abastecimento e criamos um grupo de trabalho para construir estratégias de enfrentamento da seca para áreas com grande intensidade demográfica, como a de Campina Grande (PB), que há 100 anos não tinha uma estiagem tão extensa como esta e pode entrar em colapso no fim do primeiro trimestre de 2017”, disse o ministro Helder Barbalho. Lá, moram mais de 400 mil pessoas.
Segundo ele, a solução estrutural para resolver a seca no semiárido nordestino é a transposição do Rio São Francisco, cujas obras começaram em 2007. A previsão é de que a passagem das águas pelo eixo leste (Pernambuco e Paraíba) esteja pronta até dezembro e do eixo norte (Ceará e Rio Grande do Norte) no ano que vem, com cinco anos de atraso.
Dados da Agência Nacional de Águas (ANA), que monitora 511 açudes do Nordeste, mostram que o nível dos reservatórios que abastecem a região é de apenas 19%. O cenário é preocupante porque ainda faltam quatro meses para o início da chamada quadra chuvosa (fevereiro a maio). Em 2012, quando a estiagem começou, o índice era de 54% nesta época do ano.
No Ceará, por exemplo, mais da metade dos 151 reservatórios já secou ou tem menos de 10% da capacidade, como o açude Castanhão, principal fonte de abastecimento de Fortaleza. Desde a semana passada, o morador da capital cearense que não reduzir o consumo de água em 20% pagará multa sobre o volume excedente.
Norte
Até cidades que no ano passado decretaram estado de calamidade por causa de inundações, como Brasiléia e Rio Branco, no Acre, estão hoje em situação de emergência por causa da seca. O Rio Acre atingiu nas últimas semanas o nível mais baixo da história (1,30 metro de altura) e a capital entrou em rodízio no abastecimento. Há um ano o nível do rio era de 10,5 metros.
“Estamos vivendo a maior seca da história do Acre. Com a baixa do rio, as torres não conseguiram mais captar água normalmente e tivemos que usar bombas flutuantes e construir novas adutoras para fazer a captação em águas rasas e manter um abastecimento controlado”, disse Edvaldo Magalhães, presidente do departamento de saneamento do Estado.
El Niño
Fenômeno climático que ajudou São Paulo a sair da pior crise hídrica de sua história neste ano após duas temporadas de seca e racionamento de água, o El Niño foi o grande responsável por agravar a estiagem no Nordeste e no norte de Minas Gerais.
Segundo o meteorologista Christopher Cunningham, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o El Niño observado entre 2015 e 2016 foi o terceiro mais intenso já registrado na história e comprometeu ainda mais a quadra chuvosa do Nordeste, que vai de fevereiro a maio, enquanto aumentou as precipitações em parte do Sudeste.
“Esse episódio de El Niño foi o grande culpado. O Nordeste já vinha de três anos de seca por causa de um grande sistema de alta pressão que também afetou o Sudeste e provocou irregularidade nas chuvas. O El Niño levou uma corrente de água quente para o sul do continente, que provoca muita chuva no Sul do Brasil, às vezes com reflexo no Sudeste, como tivemos neste ano, mas inibe a formação de nuvens no Nordeste.” Não há perspectiva de melhora até fevereiro de 2017.
Em São Paulo, o El Niño acabou levando chuvas acima da média para o Sistema Cantareira a partir de novembro de 2015, o que fez com que o manancial deixasse de operar no volume morto em dezembro. O mesmo ocorreu na bacia do Rio Paraíba do Sul, que abastece a região metropolitana do Rio de Janeiro.
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