A pressão por produtividade, por vezes, é norteadora da rotina de quem se vê numa prática frenética de entrega de resultados e alcance de metas. Essa sensação pode ser evidenciada até mesmo durante momentos de descanso e lazer. Como conseguir dosar, porém, a entrega efetiva no espaço laboral e não ser engolido(a) pela ansiedade dos resultados – e de novas demandas?
Nesta terceira matéria da série Um olhar para dentro, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) discute sobre como a gestão do tempo e o ócio criativo podem ser ferramentas de prevenção ao adoecimento psicológico. A iniciativa faz parte dos objetivos pautados pela campanha Janeiro Branco, movimento dedicado à construção e ao debate de temáticas sobre saúde mental.
O termo “ócio criativo” é um conceito apresentado pelo sociólogo italiano Domenico de Masi, resultado da confluência entre três elementos: trabalho, estudo e lazer. Para o teórico, é preciso refletir sobre a forma de se relacionar com esses universos e, consequentemente, com o tempo.
A prática denota formas de priorizar e oferecer significado às atividades relacionadas ao trabalho, gerando riquezas; ao estudo, produzindo conhecimentos; e ao tempo livre, fonte de bem-estar. O ócio criativo objetiva encontrar um propósito maior em meio aos desafios dessas três esferas.
Para Danilo Montenegro, psicólogo no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Rede Sesa, existe uma grande diferença entre ócio criativo e “não fazer nada”. Para o profissional, o conceito convida a compreender a união entre as três dimensões – estudo, lazer e trabalho – de forma harmônica. “É uma ferramenta de extrema importância para o equilíbrio psíquico do indivíduo, uma vez que, com essa abordagem, as pessoas são capazes de se entregar integralmente, dedicar-se e garantir um processo criativo mais leve e produtivo”, afirma.
A prática denota formas de priorizar e oferecer significado às atividades relacionadas ao trabalho, gerando riquezas; ao estudo, produzindo conhecimentos; e ao tempo livre, fonte de bem-estar. O ócio criativo objetiva encontrar um propósito maior em meio aos desafios dessas três esferas.
Para Danilo Montenegro, psicólogo no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Rede Sesa, existe uma grande diferença entre ócio criativo e “não fazer nada”. Para o profissional, o conceito convida a compreender a união entre as três dimensões – estudo, lazer e trabalho – de forma harmônica. “É uma ferramenta de extrema importância para o equilíbrio psíquico do indivíduo, uma vez que, com essa abordagem, as pessoas são capazes de se entregar integralmente, dedicar-se e garantir um processo criativo mais leve e produtivo”, afirma.
Danilo Montenegro, psicólogo no HSM, diz que é preciso estar atento às cobranças de produtividade e saber diferenciar os espaços que exigem tal postura
A relação entre produtividade e ócio criativo é uma reflexão recorrente na vida da jornalista Gabriela Vieira, de 26 anos. Após enfrentar mudanças pessoais e profissionais, Vieira compreendeu o espaço ocupado pelo trabalho em sua vida. O desafio maior, ela conta, é reverter a lógica de que a atividade laboral, mesmo preenchendo a maior parte da rotina, não é a atribuição mais importante.
“Todos nós estamos inseridos em uma lógica que prioriza o trabalho. Estudar para passar na faculdade, formar-se para conseguir um emprego, trabalhar para crescer profissionalmente… A lógica é essa”, diz.
A relação entre produtividade e ócio criativo é uma reflexão recorrente na vida da jornalista Gabriela Vieira, de 26 anos. Após enfrentar mudanças pessoais e profissionais, Vieira compreendeu o espaço ocupado pelo trabalho em sua vida. O desafio maior, ela conta, é reverter a lógica de que a atividade laboral, mesmo preenchendo a maior parte da rotina, não é a atribuição mais importante.
“Todos nós estamos inseridos em uma lógica que prioriza o trabalho. Estudar para passar na faculdade, formar-se para conseguir um emprego, trabalhar para crescer profissionalmente… A lógica é essa”, diz.
A gestão de tempo, segundo Gabriela Vieira, surge numa tentativa de autocuidado e compaixão consigo mesma
A busca pela resolutividade das demandas e pela agilidade nas entregas é do perfil da jornalista. Vieira pondera, no entanto, que essa característica fora da vida profissional gera angústia. “Tenho dificuldade de viver o ócio dos intervalos, mas tenho aprendido a necessidade de encarar momentos de descanso com gentileza, sem levar o tempo livre para o aspecto produtivo, fazendo a mente verdadeiramente descansar”, ensina.
A busca pela resolutividade das demandas e pela agilidade nas entregas é do perfil da jornalista. Vieira pondera, no entanto, que essa característica fora da vida profissional gera angústia. “Tenho dificuldade de viver o ócio dos intervalos, mas tenho aprendido a necessidade de encarar momentos de descanso com gentileza, sem levar o tempo livre para o aspecto produtivo, fazendo a mente verdadeiramente descansar”, ensina.
Uma das práticas adotadas por Gabriela é desafiar-se em novas atividades e buscar estar consciente em cada uma delas, como no surf
A gestão de tempo, num esforço de autocuidado e compaixão consigo mesma, tem sido uma possibilidade de acolhimento para a jovem. Ela passou a enxergar, no “tempo livre”, um investimento em si – seja em uma nova atividade na rotina, no compromisso do banho de mar diário ou no café da manhã com atenção e presença.
“Nessa tentativa de lidar melhor com o ócio, tenho feito um movimento de imergir nas coisas que já gosto de fazer e encontrar novas. Seja viajar, passar tempo com o meu cachorro ou fazer aula de surf. A intenção é não ficar parada e entender que tudo bem também parar de vez em quando”, lembra-se.
Um olhar para a individualidade
Voltar o olhar para a individualidade é uma das estratégias sugeridas por profissionais da Psicologia. O processo de autoconhecimento, como explica Danilo Montenegro, é uma ferramenta poderosa para minimizar o adoecimento mental.
“Conhecer-se é colocar uma luz à maneira como cada um de nós lida com as dificuldades. Este processo dá uma dimensão daquilo que é, ou não, possível. Quanto mais nos conhecemos, mais nos permitimos criar caminhos efetivos para lidar com impasses. Isso é libertador”, pontua.
Quando os dois cenários – sobrecarga de trabalho e esgotamento – se somam, há margem para o adoecimento mental. Um dos possíveis diagnósticos é a síndrome do esgotamento profissional, ou a síndrome de burnout, reconhecida em 2022 como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um levantamento da International Stress Management Association (Isma) aponta o Brasil como o segundo país com mais casos da doença.
A gestão de tempo, num esforço de autocuidado e compaixão consigo mesma, tem sido uma possibilidade de acolhimento para a jovem. Ela passou a enxergar, no “tempo livre”, um investimento em si – seja em uma nova atividade na rotina, no compromisso do banho de mar diário ou no café da manhã com atenção e presença.
“Nessa tentativa de lidar melhor com o ócio, tenho feito um movimento de imergir nas coisas que já gosto de fazer e encontrar novas. Seja viajar, passar tempo com o meu cachorro ou fazer aula de surf. A intenção é não ficar parada e entender que tudo bem também parar de vez em quando”, lembra-se.
Um olhar para a individualidade
Voltar o olhar para a individualidade é uma das estratégias sugeridas por profissionais da Psicologia. O processo de autoconhecimento, como explica Danilo Montenegro, é uma ferramenta poderosa para minimizar o adoecimento mental.
“Conhecer-se é colocar uma luz à maneira como cada um de nós lida com as dificuldades. Este processo dá uma dimensão daquilo que é, ou não, possível. Quanto mais nos conhecemos, mais nos permitimos criar caminhos efetivos para lidar com impasses. Isso é libertador”, pontua.
Quando os dois cenários – sobrecarga de trabalho e esgotamento – se somam, há margem para o adoecimento mental. Um dos possíveis diagnósticos é a síndrome do esgotamento profissional, ou a síndrome de burnout, reconhecida em 2022 como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Um levantamento da International Stress Management Association (Isma) aponta o Brasil como o segundo país com mais casos da doença.
De acordo com João Henrique Cordeiro, psicólogo no Núcleo de Estudos em Esquizofrenia (Nuesq) do HSM, existem diversos tipos de adoecimentos mentais em decorrência da “perda de limites” entre o laboral e o pessoal. “O burnout é um transtorno de esgotamento físico mental. Na maioria dos casos, está ligado à atividade profissional em excesso e pode estar associado a comorbidades como depressão e ansiedade. Aqueles que trabalham em situação de risco, como os profissionais da Saúde e da Segurança Pública, também podem desenvolver síndrome do pânico”, sublinha.
O sufocamento das demandas diárias pode ser exemplificado na frase “é necessário mais do que 24 horas no dia para solucionar todas as demandas”, frequentemente reproduzida. Nessa perspectiva, Cordeiro reflete sobre a necessidade de pensar a gerência do tempo e o impacto desta na individualidade e na manutenção da saúde mental.
João Henrique Cordeiro (de frente) recomenda o uso de ferramentas de organização pessoal e gerência do tempo
“Nos dias atuais, acumula-se funções, responsabilidades e problemas a um funcionário que, muitas vezes, deveriam ser distribuídos a uma equipe. Temos, sim, de nos organizar e gerenciar bem o tempo, não só para dar conta de tudo, mas para não adoecer”, alerta.
O psicólogo recomenda o uso de planners, agendas e lembretes para a organização de prioridades e do tempo disponível. “E, claro, o ócio produtivo. Este precisa estar presente no planejamento, pois, se não o colocamos como prioridade, ele surge como mais uma demanda cansativa”, acrescenta.
“Nos dias atuais, acumula-se funções, responsabilidades e problemas a um funcionário que, muitas vezes, deveriam ser distribuídos a uma equipe. Temos, sim, de nos organizar e gerenciar bem o tempo, não só para dar conta de tudo, mas para não adoecer”, alerta.
O psicólogo recomenda o uso de planners, agendas e lembretes para a organização de prioridades e do tempo disponível. “E, claro, o ócio produtivo. Este precisa estar presente no planejamento, pois, se não o colocamos como prioridade, ele surge como mais uma demanda cansativa”, acrescenta.
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