sábado, 6 de junho de 2020

Artigo Ateneu | Emitir moeda: será que é bom?


O ministro Paulo Guedes há algumas semanas atrás falou sobre “emitir moeda”. Eu me proponho a tentar explicar de maneira bem simples o que esse “economês” pode significar, mas também é necessário, além do conhecimento de Economia, um pouco de história também. Essa é uma ferramenta de política monetária, ou seja, ela deve ser usada na gestão da moeda e o que ela representa. Não se esqueçam que a quantidade de reais circulando, no caso do Brasil, ou de dólares no caso dos Estados Unidos, ou libra na Grã Bretanha, representam a riqueza que existe em cada um desses países. Então cada real, dólar ou libra representa uma fração da riqueza desses países.

Ora, se há mil notas de uma moeda representando a riqueza de um país, cada moeda representa um milésimo da riqueza desse país. Logo, se forem emitidas mais mil moedas desse país, cada moeda (mil mais mil são duas mil) passa a representar dois milésimos da riqueza total desse país. Olha só! Cada moeda se desvalorizou. Elas estão valendo só a metade do que valiam antes da emissão. Deu para ter uma ideia como isso é perigoso? O risco de se gerar inflação é enorme. Porém, essa inflação que nos atormentou durante décadas pode ser um remédio contra a retração da Economia. E se esse remédio amargo for usado, somente se sairá da inflação se houver geração de riqueza que compense essa emissão. Tem que ser muito competente!

Os Estados Unidos usaram e usam a emissão de moeda. Duas ocasiões são históricas: na Depressão de 29 (Keynes propunha que em situações críticas era melhor colocar cédulas em garrafas, enterrá-las e mandar o povo atrás porque isso mantinha a ideia de trabalho, mesmo criando o paradigma da produtividade); e no Plano Marshall, para reconstruir o mundo. Logo em seguida dessas duas ocasiões, houve crescimento na geração de riqueza.

Aí vem o caso do Brasil il il... JK (Juscelino Kubtschek) mandava o ministro da Fazenda, José Maria Alckimim, emitir moeda para pagar o “progresso”. Lembram dos “50 anos em 5”. Quando o seu governo acabou, tínhamos Brasília, estradas, a indústria automobilística consolidada e... inflação, déficit fiscal, descontrole estatal e corrupção. Essa relação espúria que existe entre empreiteiras e governo teve seu auge nesses tempos. Eu não vou considerar os últimos tempos para não cair em discussão política.

Depois, houve a época do milagre econômico. Nesse tempo, o Brasil crescia como a China cresce hoje. O país se endividou com juros flutuantes para financiar esse crescimento, e por causa da primeira crise do petróleo, as taxas de juros foram para patamares inéditos. Uma das tentativas de manter a Economia ativa foi através de mais emissão (não parou desde o governo JK), que ainda mais descontrolada levou à hiperinflação. Ouso concordar que hoje esse novo Coronavírus é um cometa que nos atingiu, mas acho que é hora de algo diferente e criativo. Há base teórica para isso.

O estudo da Economia se desenvolveu muito no Brasil porque tínhamos um laboratório no nosso quintal (quando a inflação chegou a 1.800% ao mês). Eu acho que a emissão de moeda só se justificaria num modelo monetarista ou liberal. Acho que é hora de pensar diferente. Acho que vale revisitar Celso Furtado em vez de Roberto Campos.


Prof. Me. Leonel Credidio

Professor do Curso de Recursos Humanos da UniAteneu
Mestre em Administração e em Comércio Exterior e especialista em Administração de Marketing

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