Jefferson Rudy/Agência Senado
Deflagrada pela Polícia Federal (PF) na manhã desta terça-feira (11), a operação Ross, que faz buscas em endereços de políticos em 8 estados e no Distrito Federal, tem como principal alvo o senador Aécio Neves (PSDB). Não há pedidos de prisão. As investigações partiram de um dos termos da delação do grupo J&F (controlador do frigorífico JBS), que teria feito pagamentos de R$ 110 milhões por interesse do tucano.
Segundo Ricardo Saud, ex-diretor do grupo, a JBS comprou apoio de 12 partidos para formar a coligação que apoiou Aécio nas eleições de 2014 (veja lista abaixo). Um dos partidos beneficiados, segundo a colaboração, foi o Solidariedade, que teria recebido R$ 15,27 milhões.
O presidente da legenda, Paulinho da Força (SDD-SP), também é investigado na operação de hoje. Aécio acabou derrotado no segundo turno em 2014 por Dilma Rousseff (PT), no segundo turno, por uma diferença de 3,5 milhões de votos.
A relação do tucano com a JBS já seria antiga. Segundo Saud, Aécio favoreceu o grupo enquanto era governador de Minas Gerias, liberando mais de R$ 24 milhões em créditos de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e prometendo atuar pelos interesses da empresa caso fosse eleito presidente.
O senador defende, em nota, que a delação tenta chamar de propinas o que teriam sido doações eleitorais legais e registradas nas eleições de 2014. O tucano informa ainda que "sempre esteve á disposição para prestar esclarecimentos e apresentar documentos", e que a investigação se baseia em declarações de delatores interessados em manter seus benefícios na Justiça.
Aécio encerra no ano que vem seu mandato no Senado e passará a ser deputado federal. Em outubro, ele foi eleito em 19º lugar em Minas para a Câmara, com 106.702 votos.
Quem recebeu
Segundo a delação de Ricardo Saud, Aécio orientou a compra de 12 partidos que compuseram a coligação com o PSDB. O total de dinheiro distribuído às legendas foi, de acordo com a colaboração, R$ 43,17 milhões:
- PTB - R$ 20 milhões (R$ 18 milhões em doações oficiais / R$ 2 milhões em espécie a Luiz Rondon, tesoureiro do partido)
- SDD - R$ 15,27 milhões (R$ 11 milhões em doações oficiais / R$ 4 milhões a empresas indicadas pelo deputado Paulinho da Força)
- DEM - R$ 2 milhões (em doações oficiais - apesar de o senador Agripino Maia ter pedido R$ 10 milhões)
- PMDB - R$ 1,5 milhão (doação oficial ao atual governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori)
- PMN - R$ 1,3 milhão (em doação articulada por uma representante do partido)
- PTdoB - R$ 1 milhão (em doação articulada por um representante do partido)
- PTN - R$ 650 mil (em doação a representante do partido) - PTC - R$ 650 mil (em doações articuladas por dois representantes do partido)
- PEN - R$ 500 mil (em doação articulada por um representante do partido)
- PSL - R$ 150 mil (em doação articulada por um representante do partido)
- PSC - R$ 100 mil (em doação oficial)
- PSDC - R$ 50 mil (em doação articulada por um representante do partido)
A operação
O nome da operação, Ross, é uma alusão a um explorador britânico que dá nome à maior plataforma de gelo do mundo, na Antártida. É uma referência às notas fiscais frias que são investigadas. A ação de hoje é um desdobramento da Operação Patmos, deflagrada pela PF em maio de 2017. Oficialmente, são investigados três senadores e três deputados: do Senado, Aécio Neves (PSDB-MG), Agripino Maia (DEM-RN) e Antonio Anastasia (PSDB-MG). Da Câmara, Paulinho da Força (SDD-SP), Benito da Gama (PTB-BA) e Cristiane Brasil (PTB-RJ).
Por parte de Aécio, a PF esteve em endereços do parlamentar e da irmã, Andréa Neves (que chegou a ser presa e é apontada como operadora do tucano), em Belo Horizonte, e também no Rio de Janeiro. Aproximadamente 200 policiais cumprem 24 mandados de busca e apreensão expedidos pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foram feitas 48 intimações para interrogatórios.
As medidas são cumpridas no Distrito Federal e nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul, Tocantins, e Amapá. Os crimes investigados são corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Fonte: Congresso em foco
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